Goodbye.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Ela estava sentada no chão frio da sala, próxima a grande porta de vidro que dava acesso à varanda. Com as pernas dobradas e abraçando seus joelhos, ela não conseguia desviar o olhar do dia nublado que fazia do lado de fora. Tudo parecia muito cinza, frio e triste. Mas ela tinha certeza que nada conseguiria ser pior do que a dor que ela sentia dentro dela naquele momento; que apesar de tudo, de lá fora parecer tão feio, alí dentro, naquele apartamento, tudo parecia muito pior. Fungou mais uma vez, tentando controlar-se para que o choro não voltasse outra vez. Ela não queria parecer tão fraca, mas ela simplesmente não tinha escolha. Não conseguia dominar seus sentimentos e fazer-se indiferente. Ouviu os passos ecoando pelo chão de madeira e pararem próximos a ela. Um segundo depois ele estava sentado ao seu lado, quieto, e o coração dela voltou a acelerar. Como ela conseguiria viver sem essa sensação? Ela ainda não o olhava, mas pode ouvir a sua voz:

- Parece que eu vou ter que sair daqui usando uns dez casacos. – Ele soltou uma risada sem emoção, numa tentativa falha de fazer a garota sorrir. Respirou profundamente e passou uma das mãos pelo cabelo, ansioso. Seu coração também batia rápido, e ele podia senti-lo partindo-se aos poucos. – Você sabe o quanto isso é difícil para mim também... te ver assim torna tudo ainda mais difícil. – Ele esperou, até que ela virou a cabeça lentamente para olhá-lo. Ela apoiou a cabeça sob os joelhos, enquanto tentava transmitir com o olhar que, apesar de tudo, ela entendia.
- Me desculpe. – Ela pronunciou, quase num sussurro, e fungou mais uma vez. Seus olhos brilhavam de uma maneira extrema, mas ele não gostava disso. Porque, desta vez, o brilho provinha das lágrimas que ela tentava guardar. – Eu só... não queria que você tivesse que ir. – Uma lágrima desceu por seu rosto, sem que ela pudesse contê-la. Ele sentiu seu coração apertar-se, como se no segundo seguinte fosse explodir com a dor que sentia.
- Você sabe que eu estou fazendo isso tentando acertar, não sabe? – Ele passou a mão pelo cabelo macio da menina, guardando a sensação na memória. Ele, nem que quisesse, poderia esquecer qualquer mínimo detalhe que guardava dela. Viu ela acenar afirmativamente com a cabeça e continuou. – É para o nosso bem. Talvez nem leve tanto tempo até podermos resolver tudo.
- Espero. E espero que essa dor passe logo. Eu não sei se posso aguentar... – Ela ainda o olhava, e então não pode segurar mais o choro que estava preso dentro dela. As lágrimas caíram silenciosas, e ao vê-las, ele a abraçou tão junto a ele que, em certo momento, ficou com medo de estar machucando-a. Mas ela somente retribuía o abraço na mesma intensidade. - Dói tanto!
- Eu sei, eu sei! Me desculpe. Me desculpe por não poder ficar, por te fazer sofrer... eu juro que isso era tudo o que eu não queria! – Ele disse, apoiando o rosto nos cabelos dela e sentindo o cheiro doce que eles tinham. O lembrava cheiro de baunilha. Ele inspirou mais uma vez e, junto com as outras memórias, guardou mais uma. – E vou voltar... você sabe que eu vou.
- Eu vou te esperar. – Ela sussurrou quando se afastou um pouco para olhá-lo nos olhos. – Não importa quanto tempo passe... eu ainda vou estar aqui. – Aquilo era tudo o que ele precisava ouvir. Sabia que não podia cobrá-la algo tão egoísta; não podia pedir-lhe que parasse com a sua vida. Mas, de certo modo, ele precisava saber que ela ficaria alí, assim como ele voltaria por ela.
- Eu amo você. – Foi o que de mais sincero ele conseguiu dizer. Era tudo o que ele sentia, era tudo o que o preenchia. Ele era feito inteiramente do amor que sentia por ela. Ela era sua razão, sua força, sua motivação. Ela era tudo o que importava, tudo o que ele tinha. Ele viu um sorriso fraco, porém verdadeiro iluminar o rosto da menina, e sorriu junto dela. Era inevitável.
- Eu amo você. – Ela disse, baixinho, e acariciou o rosto do menino. Ele, por sua vez, repetiu o gesto, enquanto ambos fechavam os olhos e aproximavam os rostos para o beijo mais apaixonado que eles já haviam experimentado durante toda a vida. Nele havia todo um conflito de sentimentos, e de mais predominante a saudade que já se instalava em ambos os corpos.

Após romperem o beijo, olharam-se durante alguns minutos e ficaram abraçados, um confortando ao outro. Não era preciso mais palavras, eles sabiam tudo o que era preciso saber. Eles sentiam. E, de algum modo, uma de suas certezas era de que aquele não seria o fim. Ele respirou fundo, olhou a menina virar o rosto para encara-lo e então tentou dizer com os olhos: chegou a hora. Sem nenhuma palavra, lágrimas formaram-se nos olhos dos dois, mas alí mantiveram-se. Ela mordeu o lábio inferior e afirmou com a cabeça, enquanto levantava-se junto com ele do chão. O olhar da menina seguiu direto para a porta, onde uma grande mala estava encostada desde a hora em que havia acordado. Respirou fundo e sentiu seu coração abrindo pequenas rachaduras, que ela tinha certeza que ficariam maiores com o tempo. Olhou-o para encontrar seu olhar reconfortante e quando o encontrou, teve outra certeza: por maior que fosse o tempo e por maior que fossem as rachaduras, todas seriam curadas no instante em que ele estivesse de volta em seus braços. Ele a abraçou pelos ombros e os dois seguiram até a porta, onde abraçaram-se e beijaram-se por mais um tempo. Ele pegou sua mala e abriu a porta, passando pela mesma enquanto andava de costas para poder olhá-la. Ele gravava cada centímetro da menina, que agora permanecia encostada ao batente, olhando-o e fazendo exatamente o mesmo. A espera pelo elevador até que este chegasse ao andar onde estavam pareceu uma eternidade, como se para que o momento doloroso durasse ainda mais. Quando ele chegou, o menino colocou a mala para dentro e deu uma última olhada em sua menina, que agora já não conseguia segurar as lágrimas. Ele queria escutar a voz dela mais uma vez, mas sabia que se o fizesse, ficaria. No entanto, sabia que ligaria assim que chegasse ao aeroporto. Uma pequena lágrima correu seu rosto. Ele a amava. Ela o amava. Era só o que importava; era só o que ambos precisavam saber. Com um último aceno, ele entrou dentro do elevador e ela o perdeu de vista. Então era isso. Essa havia sido de longe a despedida mais dolorosa que os dois haviam enfrentado. Mas eles sabiam que, por um lado, valia a pena esperar. Ali, num futuro que talvez não fosse muito distante, haveria um reencontro. E nada, absolutamente nada seria melhor do que isso.

You Might Also Like

0 comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...