The end.

quarta-feira, junho 23, 2010

Então, aquele era o dia que ela tanto havia esperado. Aquele era o dia que ela tanto havia sonhado. Estar alí, de frente ao espelho, olhando seu longo vestido branco parecia ser mais uma cena de um sonho. Ou de um conto de fadas, ela não sabia dizer ao certo. Tudo havia sido planejado da maneira correta, tudo estava saindo do jeito que ela queria e ela já não podia esperar mais naquele pequeno cômodo. Porém, suas mãos não tremiam e ela não tinha vontade de chorar. Por mais especial que fosse aquele dia, os momentos a seguir, ela estava calma. Era como se uma paz infinita estivesse a rodeando, quase palpável, quase nítida. Olhou-se no espelho mais uma vez, ajeitando o véu e checando a maquiagem, mesmo que sem necessidade. Não havera uma lágrima sequer para tirá-la do lugar. Olhou ao redor, notando mais uma vez todos os detalhes de seu agora antigo quarto. Ela gostava de tudo alí. As cores, os objetos, tudo havia sido escolhido por ela e era o seu "cantinho feliz". Era onde poderia se esconder e fugir do mundo; onde ela poderia fazer o que bem entendesse sem dar explicações a ninguém. E agora ela estava deixando aquilo para trás; seu pequeno quarto e tantas coisas mais fariam parte de um passado que havia sido trocado por uma vida adulta; a vida que ela idealizara durante tanto tempo. Caminhou até a janela e, inconcientemente, deixou um leve suspirou escapar por seus lábios. Ela ainda tinha medo de ter feito a escolha errada, mas não podia esperar durante toda a sua vida. Mais uma vez, repetiu para si mesma que aquilo era o que ela queria e era o mais certo a ser feito, soltando outro suspiro mais pesado e passando uma de suas mãos pelo rosto com cuidado.

- Posso entrar? - Ela ouviu uma pequena batida na porta e virou-se de súbito, tomada pela surpresa que a voz lhe trouxera. Encarou o corpo do homem encostado ao batente, e este não possuia nenhuma expressão aparente em seu rosto. Mas ela o conhecia; e ela pode ver, em seus olhos, que dentro dele não havia felicidade.
- O que você está fazendo aqui? - Sua voz soou baixa, mas firme. Ela não queria parecer rude, mas ela não tinha outra opção, vista a situação em que os dois se encontravam. Ele esboçou um pequeno sorriso no canto dos lábios, sem emoção alguma.
- Esqueceu de que eu disse que te seqüestraria no dia do seu casamento? - Ele avançou um pouco no cômodo, ficando de frente para a estante de livros e com as costas viradas para ela, evitando qualquer tipo de contato visual.
- Esqueceu que eu disse que você não me convenceria a desistir de tudo? - Ela cruzou os braços, esperando que, por pelo menos uma vez, ele soubesse encarar a situação da maneira correta e não estragasse tudo mais uma vez.
- Não. E também disse que seria mais fácil se eu tentasse me casar com você antes disso tudo poder acontecer. - Ele virou seu corpo, finalmente olhando-a nos olhos e percebendo o quanto aquilo lhe fazia falta. Ela estava maravilhosa. E ele desejou mais do que tudo no mundo que, quando ela entrasse caminhando pela igreja, fosse em sua direção.
- Mas você não fez isso. - Ela tentava olhá-lo sem perder o foco, mas não conseguia. Ele segurava o paletó do terno nas mãos e estava vestido com roupa social completa; o cabelo estava muito bem arrumado e ela conseguia sentir o cheiro de seu perfume inebriante. Aquele devia ser o seu noivo, mas não era. Tentou se livrar daqueles pensamentos impróprios, mas mesmo assim não tirou os olhos da imagem dele. Ela precisava ser firme.
- Eu também me lembro de mais uma coisa. - Ele disse calmamente, sua voz suave. Soava como música aos ouvidos dela, mas ela não queria se deixar levar. Ele deu dois passos em sua direção, diminuindo um pouco a distância entre eles. - Eu me lembro de dizer que não era uma questão de te convencer, só uma questão de você aceitar. Porque... - Ele fez uma pausa, incerteza dominava o seu olhar, mas ela podia ver que alí também lutava um mínimo pedaço de esperança. Ela resolveu completar a sentença.
- Porque era o nosso destino, e nós não tínhamos escolha. Porque nós ficaríamos juntos, não importa o que acontecesse. - E pela primeira vez naquele dia, ela sentiu grossas lágrimas se formando sob seus olhos. Ela não queria e nem podia ser fraca, mas todas as lembranças de um passado conturbado voltaram a sua mente.
- Exatamente. - Ele fez um pequeno gesto afirmativo com a cabeça, como se para confirmar ainda mais que ela havia acertado aquilo que ele ia dizer. Mordeu o lábio inferior ao perceber as lágrimas nos olhos da menina. Menina? Não, agora ela era uma mulher. Uma mulher prestes a se casar. A mulher de sua vida; a mesma que ele havia deixado escapar por entre seus dedos.
- Eu não queria ter que dizer isso um dia, mas... - com uma pausa, ela deixou uma pequena lágrima dançar por seu rosto, escorrendo pela bochecha e chegando rápida ao queixo. Ela também o amava, sempre amaria. Mas era tarde demais. - Eu quero mudar o meu destino agora. - Ela terminou de falar, virando-se de costas para ele novamente e olhando o pôr-do-sol no céu pela janela. Ela sempre amara o pôr-do-sol, mas nem ele parecia animá-la agora.
- É, eu demorei demais. Mas eu... eu só quero que você seja feliz. - Ela o ouviu falar por um fio de voz, fazendo com que seu coração ficasse ainda mais apertado. - Eu só não vou poder... você sabe, estar lá... - Ela agitou a cabeça em confirmação e virou-se novamente para ele, vendo-o com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. - Eu vou embora agora. - Ele olhou-a de repente, com os olhos marejados, porém sem brilho. Ela nada disse, apenas olhou aquele que tanta felicidade e tanta dor havia lhe trazido. Eles não precisavam confirmar, pois viam um nos olhos do outro o que os corações sentiam. Os dois sabiam que aquele amor nunca mais iria se repetir, não importava o tempo que vivessem.

Com um pequeno aceno, ele virou seu corpo e andou até a porta, passando por ela sem olhar para trás. Ela sabia que aquele era o fim da história que os dois haviam escrito por tantos anos. E por mais que ela não tivesse vontade de escrever uma outra, ela deveria virar a página do livro de sua vida. De algum modo, aquele não devia ser o fim. Aquele devia ser o começo.

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